Mineiro se assusta com os impostos que paga e nem vê

Conhecer as taxas sobre cada produto consumido revela surpresas nada agradáveis. Mas é fundamental para o contribuinte saber o quanto realmente paga toda vez que compra algo

Graziela Reis
Marinella Castro

Antônio Carlos Moreira faz as contas do orçamento doméstico todo mês. À medida que vai calculando os gastos, vê a sua indignação crescer. Não é para menos. Este ano, o administrador de empresas já desembolsou cerca de R$ 15 mil só com os tributos formais cujas cobranças chegam pelos Correios, como IPTU e IPVA, mais o Imposto de Renda proporcional ao período. Somadas as taxas embutidas em todos os produtos que a família compra, de supérfluos a itens necessários à manutenção da vida e da casa, o resultado dá um salto – e o susto dele também. Entre janeiro e julho, cerca de R$ 8 mil foram embora nos impostos que nem imaginava que existiam nos itens adquiridos na padaria, na farmácia e no supermercado.

Perdido em meio a uma cascata de impostos, o brasileiro não consegue imaginar quanto da renda familiar é consumida pelos tributos. Mesmo os mais prevenidos assustam. Na padaria, a cada R$ 1 que a família de Antônio Carlos gasta em pãezinhos, cerca de R$ 0, 17 é consumido pelo imposto. A conta não para de crescer. Mais de 37% do valor da fralda descartável usada pelo pequeno Lucas vão para o Tesouro. No supermercado, então, o susto é de perder o fôlego. A família gasta cerca de R$ 1,2 mil mensais com alimentos. Desse total, pelo menos R$ 480 correspondem à mordida do fisco. Isso significa que só em bebidas e alimentos variados já se foram pelo menos R$ 2,8 mil em impostos este ano.

E os gastos continuam. Durante o ano, a família de Antônio Carlos gastou R$ 2,1 mil de gasolina. O fisco ficou com R$ 1,5 mil desse valor. Pior foi o que constataram no jogo eletrônico de Matteo, o filho mais velho, de 11 anos. O valor do produto se perde em uma carga tributária que chega a 72,18%, menos que o tênis de corrida da esposa, Patrícia Cardoso, em que quase 60% do valor do produto são tributos.

A surpresa com a descoberta dos impostos escondidos nos preços dos mais variados produtos foi compartilhada pela família do médico Sérgio Dias Gonçalves Vilela e da professora de inglês Rosana Junger dos Santos. A renda mensal do casal para manutenção da casa e dos gastos com os filhos, Henrique, de 5 anos, e Nina, de 5 meses, é de cerca de R$ 10 mil. O Imposto de Renda já leva 27,5% desse total. E, do restante, uma média que varia de 30% a 60% em tributos acaba indo para a compra de produtos diversos. Na mesa do café da manhã, o imposto do açúcar não é nada doce, chega a 40,5%. Do valor pago pelo biscoito recheado que o Henrique adora, 37,3% vão para o fisco. E mesmo nas frutas de Nina há 22,9% pagos em impostos.
Amanhã a arrecadação de impostos brasileira vai atingir a marca de R$ 600 bilhões. Nos próximos 30 dias, deve alcançar o equilíbrio em relação ao ano anterior, um prodígio em ano de crise na economia internacional, quando o esperado era um movimento inverso. Segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), Gilberto Luiz do Amaral, a arrecadação deve atingir este ano 35,5% do Produto Interno Bruto (PIB), equiparando-se ao patamar de 2007. No ano passado, a conta fechou em 35,8% do PIB, segundo dados da Receita Federal.

“Não dá para calcular os tributos porque eles vêm em cascata. O que o brasileiro mais sente é a conta do Imposto de Renda.” O raciocínio do administrador Antônio Carlos Moreira é traduzido pelo vice-presidente da Associação Brasileira de Direito Tributário (Abradt), Janir Adir. Ele lembra que, apesar do Código de Defesa do Consumidor, não existe no país uma lei que obrigue o fabricante a divulgar o percentual do tributo na nota fiscal. “Se os impostos fossem divulgados, a medida provocaria uma comoção.” Ele explica que, enquanto a maioria dos países priorizou a taxação da renda, em diversas faixas, o Brasil arrecada de forma indireta taxando produtos. Os impostos vão inflando ao longo da cadeia e atingem seu ápice no bolso do consumidor.

“Faz parte do princípio da transparência e da boa-fé, da lealdade e sinceridade com o consumidor divulgar o percentual de tributos embutido em cada produto”, defende a coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos Tributários, Maria Inês Murgel. Ela lembra que somente a partir dessa informação o brasileiro pode cobrar o investimento de volta. “Por não declarar Imposto de Renda, uma pessoa de baixa renda tem a falsa impressão de que não contribui, quando proporcionalmente é quem mais paga.”

Fonte: Uai -MG

Data da Notícia: 04/08/2009 00:00:00

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