Pular de galho em galho atrás de lucro pode dar prejuízo

SÃO PAULO — Na cartilha dos especialistas em finanças pessoais, uma reavaliação na carteira de investimentos a cada seis meses é sempre recomendável. Especialmente agora que os juros básicos da economia estão no menor patamar histórico — 7,25% ao ano — e devem continuar assim por um longo período, reduzindo o retorno dos fundos de renda fixa, os preferidos dos brasileiros. Mas os analistas alertam: quem pula de galho em galho pensando em obter a melhor rentabilidade, no menor prazo possível, pode na verdade ter prejuízo. Isso porque mudar de aplicação embute custos, como o pagamento do Imposto de Renda e das taxas de administração cobradas pelos gestores de fundos. E quem muda de forma apressada, sem pensar em seu objetivo financeiro ou sem orientação correta, pode sair ou entrar na hora errada de um investimento.

— Olhar as oportunidades que o mercado oferece é importante, mas querer ganhar o máximo no menor prazo possível pode trazer prejuízo em vez de lucro — adverte o educador financeiro Mauro Calil.

A arquiteta paulista Sônia Andrade, de 46 anos, por exemplo, transferiu, antes de o governo mudar as regras de rentabilidade da poupança, em maio passado, os R$ 70 mil que tinha aplicado na caderneta de poupança para o fundo Capital Performance Fix, do Itaú Unibanco, da família dos multimercados, que busca “rentabilidade superior à renda fixa”. Sônia foi em busca de um ganho maior do que o 0,50% oferecido mensalmente pela antiga poupança, correndo um pouco mais de risco.

Perda de quase um terço do ganho

Até outubro deste ano, o Capital Performance Fix ofereceu uma rentabilidade de 7,81%. Na poupança, o ganho no mesmo período é de 5,51%. Mas, se sacasse o dinheiro do fundo hoje, Sônia pagaria 1% de taxa de administração, mais 20% de Imposto de Renda. Retiraria R$ 73.673 líquidos. Se tivesse deixado os recursos na poupança, que é isenta de IR e não cobra taxa de administração, teria em mãos R$ 73.857.

— Muita gente decidiu sair da poupança por causa da mudança no cálculo da rentabilidade. Deixou a poupança antiga em busca de uma rentabilidade maior nos fundos, mas esqueceu das taxas que são cobradas por estes e podem ter impacto negativo na rentabilidade. E a poupança antiga, que paga 6,17% ao ano mais TR (Taxa Referencial), continua sendo atraente — diz o consultor financeiro e vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.

O vice-presidente da Anefac lembra que o investidor que migra da poupança para fundos de renda fixa conservadores com taxa de administração superior a 2,5% ao ano perde quase um terço do ganho bruto, antes da cobrança de impostos, no atual cenário de Selic a 7,25%.

O consultor financeiro Reinaldo Domingos lembra de outro erro comum por quem troca a poupança pelos títulos do Tesouro Direto, sistema de venda de títulos públicos pela internet. Ele observa que, atraídos pela rentabilidade interessante alongo prazo, os investidores esquecem que há incidência de IR nesses papéis. E muita gente compra e vende os títulos a curto prazo. Domingos lembra que a taxa de IR é de 22,5% para resgates feitos no prazo inferior a seis meses. E quem espera mais de dois anos para resgatar paga IR de 15% sobre os ganhos.

— Se o investidor vai precisar do dinheiro a curto prazo para comprar uma televisão, por exemplo, não faz sentido comprar um título de longo prazo, como os do Tesouro Direto. Há uma diferença de 7,5% entre a maior e a menor alíquota do IR, e quem saca antes paga mais imposto. É melhor deixar na poupança, que rende menos, mas é isenta do IR. E, quando se vende o título antes do fim do prazo, a rentabilidade auferida é apenas aquela referente ao período da aplicação. No caso de títulos prefixados, pode até haver prejuízo na venda — diz Domingos.

Conhecer objetivos financeiros é importante

Para evitar erros assim, alerta o consultor, o investidor precisa saber quais são seus objetivos financeiros: comprar um carro novo, viajar ou guardar para a aposentadoria antes de trocar de investimento. Calil observa que quem compra títulos, como por exemplo as Notas do Tesouro Nacional (NTN-B), que pagam juros reais mais inflação, deve pensar em objetivos com prazo mais longo, como a compra da casa.

Calil lembra que, desde que a taxa Selic começou a cair, em agosto do ano passado, muitos pequenos investidores têm sido atraídos para a Bolsa com a promessa de ganhos elevados com determinadas ações. Os papéis da Petrobras, por exemplo, costumam ser oferecidos como sinônimo de ganho certo. No ano, porém, eles estão estão em queda. Até a última sexta-feira, os papéis PN caíram cerca de 15% no ano. Já o Ibovespa, índice de referência, avança 1,27%.

— Ou seja, quem foi buscar lucro em um ano na Petrobras teve prejuízo. Bolsa de Valores nunca é investimento de curto prazo para o pequeno investidor — afirma Calil.

Além disso, segundo Flavio Lemos, coordenador da Trader Brasil Escola de Investidores, fez um cálculo que mostra como a cobrança da taxa de corretagem pode resultar em perdas para o investidor. Uma ordem de corretagem numa operação feita pelo homebroker custa R$ 15.

— Se eu comprar cem ações da Ambev por R$ 82 e vendê-las por R$ 83, utilizando a tabela de corretagem da Bovespa, pagarei R$ 66. O ganho com a valorização da ação se transforma num prejuízo de 0,4% com essa taxa. Para empatar, a ação teria que subir 1,6% — diz Lemos.

Fonte: O Globo - Economia

Data da Notícia: 03/12/2012 00:00:00

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