O advogado Fernando Ariel acordou cedo, bem cedo, ontem. Às 3h50min, já estava no Posto SIM Cidadão Poa, na avenida Cristiano Fischer, zona Leste da Capital. Queria aproveitar o Dia de Liberdade de Impostos no Rio Grande do Sul, comprando gasolina por R$ 1,50 o litro. E conseguiu. Nem o fato de, no final das contas, ter economizado apenas R$ 25,00, ao abastecer os 20 litros permitidos a cada motorista, o fez desistir. Com a economia, o advogado poderia comprar, por exemplo, um ingresso para uma sessão em 3D no Cinemark (valor válido para sextas a domingos e feriados) e ainda sobrariam R$ 2,00. Ou 7 quilos de tomate, um produto de larga valorização no mercado nos últimos meses. Um pacote de fraldas tamanho G, com 20 unidades, também poderia ser adquirido com a economia feita. No entanto, não foi a questão econômica a principal motivação de Ariel para ficar 5 horas e 10 minutos no local. “Para o consumidor é uma vantagem, mas, para a sociedade, é um alerta sobre a proporção de impostos que onera os produtos”, analisa. No total, 1.250 proprietários de carros apoiaram a ação, realizada há 10 anos no Estado. O evento, organizado pelo Instituto Liberdade (IL) e pela Associação da Classe Média (Aclame), foi realizado em cinco postos de combustível – três na Capital, um em São Leopoldo e um em Caxias do Sul. Ao todo, foram vendidos 25 mil litros de gasolina com desconto de 53,03%, valor referente aos tributos. Os motoristas tiveram o direito de abastecer até 20 litros por carro, e cada ponto distribuiu 250 senhas. No posto da Cristiano Fischer, o movimento era intenso às 8h45min. A fila formada por 140 veículos se aproximava da avenida Protásio Alves. Na liderança para receber o benefício estava Ariel. “Achava que seria o trigésimo ou quadragésimo, mas acabei sendo o primeiro”, relata. Como o abastecimento com desconto só se iniciava às 9h, os mais apressados não quiseram esperar. Até que as fichas começassem a ser distribuídas, cinco clientes preferiram abastecer a preço de mercado (R$ 2,75) e não aguardar na fila. “E não eram desavisados, não quiseram esperar mesmo”, garante o gerente Eduardo Lauffer. Já o funcionário da Trensurb Douglas Amorim lamentou desconhecer a promoção. “Não sabia. Se soubesse e fosse rápido, até esperaria”, cogitou. No posto Dueville, na avenida Assis Brasil, um dos três participantes na Capital, as senhas terminaram apenas 45 minutos depois de iniciada a distribuição. De acordo com o proprietário Eduardo Pianezzola, a fila atingiu dois quilômetros de extensão. Já na Abastecedora de Combustíveis SMR, localizada na avenida Borges de Medeiros, as fichas terminaram às 9h30min. O presidente do IL, Ricardo Sondermann, ressalta que os impostos são necessários, mas a alta carga praticada no Brasil prejudica o desenvolvimento. Ele comenta que os tributos pesam no bolso da população, e, em contrapartida, os governos não disponibilizam serviços públicos de qualidade. “As aspirações do brasileiro são ter plano de saúde e odontológico para não precisar depender do SUS. Estamos pagando tudo duas vezes, esse é o problema”, contextualiza. Analisando a adesão dos consumidores, Sondermann se disse satisfeito. “A expectativa foi plenamente atendida. O nosso objetivo é alertar à população sobre o peso dos impostos no preço dos produtos.” O presidente do Sulpetro, Adão Oliveira, um dos apoiadores do movimento, reforça que os impostos impactam fortemente, o orçamento dos motoristas. “Os revendedores de combustível não são os vilões no que diz respeito ao preço da gasolina”, defende. Mesmo com a realização de eventos como o de ontem, e ainda que haja uma mobilização da população, Oliveira não acredita na realização de uma reforma tributária no País. Rodrigo Borba